sexta-feira, outubro 27, 2006

Feminização do Trabalho

por Antonio Negri
Na sociedade pós-moderna a mulher se torna modelo para as formas de produção.
Se aprofundarmos a análise das transformações do trabalho na sociedade pós-moderna e na organização pós-fordista da indústria, salta aos olhos um elemento de novidade que, a meu ver, é ignorado ou calado com excessiva frequência. É um elemento, antes de mais nada, quantitativo: o número de mulheres "postas para trabalhar" está em crescente aumento. Mas esta observação é realmente interessante? Relativamente. Este fenômeno estatístico revela, de fato, um progresso da ocupação feminina dos postos de "trabalho masculino" que o fordismo já incentivara.
A força-trabalho das mulheres, mais fraca (no mercado) e menos qualificada do que a dos homens, uma vez afirmada a simplificação e a desqualificação taylorista das operações industriais, era preferível à dos homens. Nos períodos bélicos isto tornou-se necessário. Não por acaso, houve quem sustentasse que os métodos tayloristas de organização do trabalho simples foram concebidos, da primeira vez, para pôr as mulheres para trabalhar, substituindo desta forma seus homens, enviados ao massacre, durante a Primeira Guerra Mundial.
Ainda assim, o que me interessa frisar aqui é uma novidade qualitativa: não a "feminização" do "trabalho masculino", mas o "tornar-se mulher" do trabalho em geral; não o fato de que as mulheres estejam tomando o lugar dos homens nas velhas fábricas, mas que — na produção contemporânea e nas formas eminentes de sua organização — trabalhar conjuga-se antes no feminino do que no masculino. E que, portanto, os próprios homens, para produzir, têm de algum modo que se feminizar.
Para sustentar esta tese, tenho de retroceder um pouco e lembrar quais são as características fundamentais da organização pós-fordista do trabalho e da sociedade produtiva pós-moderna. Nessas organizações, a produção de riqueza depende cada vez mais da produção de conhecimentos, a produção de conhecimentos depende cada vez mais da produção de subjetividade, a produção de subjetividade cada vez mais da reprodução social de processos vitais ricos em relações intelectuais e valores afetivos.
Expressando-me em termos mais usuais: a produção pós-fordista tem, em seu centro, uma força-trabalho social imaterial (intelectual e afetiva) que produz essencialmente mercadorias-serviços, cujo valor agregado é constituído pela eficiência dos "reseaux" sociais comunicativos, linguísticos, afetivos e da força-invenção que estes introduzem, ininterruptamente, nos circuitos.
Mais simplesmente, a sociedade mais rica é a que consegue explorar mais vasta e intensamente aqueles processos de reprodução social da vida que tornam os homens mais inteligentes e mais capazes de se comunicar. A sociedade mais rica e produtiva é a que consegue pôr no trabalho o mais rico e produtivo intercâmbio social e a mais rica e produtiva geração de subjetividade. Mas, quem estaria no centro da reprodução social da vida, da produção de subjetividade portanto, senão as mulheres? Quem educa para os valores da vida relacional e afetiva, senão as mães? Quem organiza os serviços da vida social (especialmente os mais elementares, que agora se tornam a base da produtividade), senão as mulheres?
É precisamente esta a razão de as mulheres terem sido excluídas pelo regime salarial fordista: no capitalismo fordista, os serviços ainda eram considerados, antes que produção, consumo puro e simples — consumos da família que tinham de ser incluídos no salário do "homem-pater-família" produtivo. Na sociedade pós-fordista e pós-moderna tudo muda: o trabalho produtivo de serviços não só se torna imaterial, como se torna, cada vez mais, "mulher".
Se eu pensar, mesmo que de maneira autocrítica, na distinção da "economia clássica" (que também o marxismo fez sua) entre produção e reprodução (distinção que confina as mulheres na reprodução pura e simples) e na consequência que de imediato se tirava disso (que era a de excluir o trabalho feminino, isto é, o da gestão da família, da reprodução social da vida e da educação dos filhos, da capacidade de produzir valor econômico), parece-me que hoje aquela horrível mistificação pode ser superada, e que os meninos (os revolucionários também!) tenham de deplorar a sua cegueira analítica, enquanto a afirmação do "tornar-se mulher" do trabalho começa a se mostrar em seu pleno vigor.
Deleuze e Guattari já haviam dito isso, mas não com uma referência direta ao trabalho: tinham insistido no "tornar-se mulher" da vida no contemporâneo biopolítico. Nós insistimos no "tornar-se mulher" do trabalho: porque os investimentos afetivos da reprodução da comunidade tornam-se fonte de riqueza da sociedade; porque a mercadoria-serviço nada vale se não for sustentada por capacidades relacionais; porque a gestão do intercâmbio vital e a educação dos cérebros tornam-se os desafios centrais de toda a sociedade produtiva.
Consolemo-nos, companheiros meninos: por mais algum tempo ainda restará, para nós, algum lugar na nova sociedade que se está configurando. Mas não há dúvida de que, desde já, teremos de dar um pouco mais de atenção ao fato de que a "transgressividade" do trabalho entre o homem e a mulher torna-se (na comunidade linguística e afetiva que constitui a empresa-em-rede contemporânea e a sua imersão na comunicação social) cada vez mais genérica e irresistível. Comecemos a nos familiarizar com isso para evitarmos maiores encrencas!
E do ponto de vista das mulheres? Parece-me que neste ponto se assiste a uma paradoxal "heteronomia das finalidades". Explico-me. O feminismo havia exaltado a mulher como um gênero separado ou, de outro modo, como capaz de se equiparar aos homens; em torno destas finalidades havia desdobrado a sua revolução. Agora, à diferença das previsões, a feminilidade está se tornando o elemento decisivo naquele campo que era reservado ao homem: o trabalho produtivo. Longe de se separarem, as qualidades femininas do trabalho atingem todo o território produtivo; longe de alcançarem uma equiparação, as mulheres se tornam hegemônicas na biopolítica pós-moderna. E logo tomarão consciência disso.
Releio o que escrevi e me pergunto se até agora não contei um conto de fadas. É muito provável, ainda que as premissas teóricas sobre as características fundamentais do modo pós-fordista de produção na sociedade pós-moderna me pareçam corretas. Mas a passagem das condições materiais às políticas não é, por certo, um "continuum". É muito provável, então, que isto que eu disse até agora acabe realmente se revelando um conto de fadas... Mas, permitam-me a conclusão, um belo conto de fadas!
Antonio Negri é cientista social italiano, autor de "A Anomalia Selvagem" (Ed. 34), entre outros; ele escreve mensalmente na Folha, na seção "Autores".

quarta-feira, outubro 25, 2006

Mais Eduardo Galeano

As mulheres dos deuses

Ruth Landes, antropóloga norte-americana, vem ao Brasil em 1939. Ela quer conhecer a vida dos negros num país sem racismo. No RIo de Janeiro, é recebida pelo ministro Osvaldo Aranha. O ministro explica a ela que o governo se propõe a limpar a raça brasileira, suja de sangue negro, porque o sangue negro tem culpa do atraso nacional. Do Rio, Ruth viaja a Bahia. os negros são a ampla maioria da cidade, onde outrora tiveram seu trono os vice-reis opulentos de açúcar e de escravos, e negro é tudo o que aqui vale a pena, da religião até a comida, passando pela música. E mesmo assim, na Bahia todo mundo acha, e os negros também, que a pele clara é prova de boa qualidade. Todo mundo, não : Ruth descobre o orgulho da negritude nas mulheres dos templos africanos. Nesses templos são quase sempre mulheres, sacerdotisas negras, que recebem em seus corpos os Deuses vindos da Africa. Resplandecentes e redondas como balas de canhão, oferecem aos Deuses seus corpos amplos, que parecem casas onde dá prazer chegar e ficar. Nelas entram os Deuses, nelas dançam. Das mãos das sacerdotisas possuídas o povo recebe ânimo e consolo; e de suas bocas escuta as vozes do destino.

"Mulheres" Eduardo Galeano

A autoridade
Por Eduardo Galeano
Em épocas remotas, as mulheres se sentavam na proa das canoas e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens momtavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo.
Assim era a vida entre os índios Onas e Yaganes, na Terra do Fogo, até que um dia os homens mataram as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los. Somente as meninas récem-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também suas filhas e as filhas de suas filhas.

Uma opinião..

A triste vingança da mulher pós-moderna
Marcelo Cabral
Estava caminhando pela cidade num fim de tarde bonito de inverno e resolvi comprar flores para a mulher que me encanta. Descolei umas rosas equatorianas, grandes e vermelhas, era uma coisa linda de se ver. Quando nos encontramos mais tarde em sua casa, por acaso estava uma amiga dela do escritório que veio nos visitar.
Não esqueço a cara da amiga, estupefata, parecia que eu tinha dado uma ogiva nuclear pra minha menina, em vez de rosas tropicais. Na noite seguinte, fiquei sabendo que ela comentou a “cena das flores” com as outras mulheres no escritório, das dez que ouviram o causo, nove comentaram “que estranho, flores, isso não existe, deve ser um sociopata esse cara”, e só uma disse “que legal, adoro receber flores”.
Achei que fosse normal. Não é não?
Pois é, esse mundo pós-moderno.

A guerra dos sexos atingiu o auge nesses tempos de crise de fim/começo de século, os homens dessas gerações estão sofrendo a vingança vetorial histórica das mulheres por todo o tempo de submissão e maldade machista dos primórdios da nossa sociedade, que moldaram toda a nossa cultura,pêniscentrista total.Daí veio a revolução sexual, queimem os sutiens e vendam calcinhas em outdoors, causando acidentes de trânsito desnecessários.
Não sei, está tudo errado, deixa dessa.

As mulheres pós-modernas, com seus cabelos curtos e roupas pretas, e saltos altos, etc, descobriram que o certo é pisar no pescoço dos homens com seus saltos agulha, e observar nosso sangue jorrar da jugular com um deleite vampiresco. Bordões como “os homens são todos iguais”, “merecem é isso mesmo” e coisas assim já estão enchendo o saco, de verdade.
Olha só o que eu tive que ouvir quando estava com um amigo no balcão do Verdinho, um desses bares que tem outro nome na verdade, mas você e seus amigos chamam do jeito que querem. Duas meninas estavam numa mesa próxima, e uma dizia pra outra “cara, esse Vinicius é muito machista meu, ele diz para a mulher ir com ele em seu caminho mesmo que o caminho dele seja triste pra ela, muito machista meu”.
O Vininha!!! Deixa dessa.
No mais, ele só está avisando que a vida dele não é nenhum mar de rosas certo? Venha se quiser. Ele só está avisando ora! Sujeito honesto o Vininha.
Nas grandes cidades, a guerra dos sexos, sobretudo na balada, em uma cidade como São Paulo, por exemplo, é uma coisa medonha, os homens são agressivos ativos e as mulheres agressivas passivas, eles puxam o cabelo, elas rosnam e escancaram os dentes, sério que parece coisa de matilha, horrível isso.
Abaixo os sexismos! Chega de “homem é tudo igual”, ou de “todas as mulheres são assim”.

Veja bem, é como quem diz que gosta ou não gosta de cachorro, ou de criança, por exemplo. Não é assim que funciona, tem criança legal e tem criança chata, tem cachorro que é gente boa e tem cachorro que é sacana.
Bom lembrar que, se as mulheres andam um tanto frias, cruéis e defensivas nesses tempos, isso deve ser culpa dos homens mesmo, afinal, estamos no século XXI, e nada justifica certos comportamentos neandertais.
Claro, posso estar errado, ou sou apenas um tolo romântico, mas acho que dá pra conviver e viver melhor com nossas diferenças de gênero, seja como for, ela adorou as flores, e fiquei bem feliz com isso.
Marcelo Cabral é jornalista, compositor, ambientalista e colecionador de gibis velhos

As mulheres dizem não as transnacionais!!!

O dia 17 de Outubro, representa o principal dia de luta da Marcha Mundial de Mulheres durante o ano, sempre contra a pobreza e opressão machista. Neste ano, é denunciando o poder das transnacionais sobre o corpo feminino, que nos impõe a beleza, a perfeição corporal, como sinônimo de felicidade.
Na sociedade consumista em que vivemos, onde os meios de comunicação impõe que a mulher feliz não pode ser “feia”, está dado um padrão de beleza cultivado em horas diárias nas academias, além de silicones e plásticas. Pois o corpo representa a nossa imagem à oferecer ao próximo, nisso a busca pela perfeição é o principal objetivo, tornando o corpo mero objeto da vaidade, onde as mulheres se sentem obrigadas a gastar muito dinheiro em busca dessa perfeição, e assim alimentando os lucros das transnacionais.
Além disso, as indústrias de remédios também lucram muito nessa eterna ilusão pelo corpo perfeito, os antidepressivos, moderadores de apetite são os campeões de vendas. Muitas pensam que o consumo desses remédios irá garantir bem - estar e uma aparência perfeita, sendo difícil para as mulheres terem autonomia para decidir o que é saudável.
A principal luta da Marcha Mundial de Mulheres é mudar a vida das mulheres, em busca da igualdade de gênero. Nisso a conscientização é a principal tarefa, pois quando a maioria das mulheres se rebelarem contra esse sistema opressivo é que ocorrerá a verdadeira mudança. A sociedade que as mulheres merecem, deve romper com esses padrões de consumo que são impostos, baseado na perfeição do corpo, deve promover igualdade de direitos, sem opressão, com liberdade e autonomia para as mulheres.

Melina Félix

Poesia feminina

Há uns 3 anos atrás meu irmão me "apresentou" Bruna Lombardi, não como atriz, mas como poetisa.Realmente me surpreendi, uma atriz global com uma poesia feminina..

Hino

"Tenho lutado todos os dias pra ser uma mulher
no entanto onde nasci os homens têm sempre razão
e eu que não me interesso pela razão mas por outros sentimentos
teço silenciosamente à porta da minha casa
junto às outras mulheres na minha rua
a trama dos nossos instintos
e minha rua passa por outras cidades
atravessa países
não há fronteiras
tecemos todas nós o mesmo fio
matéria viva da nossa bandeira"

Yeda não me representa

Apesar dos responsáveis pela campanha da candidata Yeda Crusius estarem utilizando, como argumento, a questão de gênero, para induzir as gaúchas a votarem nessa candidata, quero salientar que, como mulher, não me sinto minimamente representada por ela. A referida candidata representa os setores oligárquicos e mais conservadores desse Estado, que não se importam nem um pouco com a situação de desigualdade das mulheres trabalhadoras, no Rio Grande do Sul. Fico realmente indignada que, na hora de conquistar votos, a direita, apropria-se da questão de gênero, sem apresentar nenhuma proposta concreta!
"Somos mais da metade do povo gaúcho. Estamos, no campo e na cidade, produzindo riquezas. Somos emoção, razão e esperança! Não votamos pela beleza, nem nos identificamos com candidaturas, por estas apenas possuírem mulheres na tentativa de um cargo! Não votamos em conversas fiadas! Votamos no trabalho, no compromisso, na experiência e na determinação!"

Melina Félix

O direito das mulheres a seu corpo

Por Miriam Nobre
A expressão “nosso corpo nos pertence” tem sido uma das bandeiras centrais do movimento feminista desde os anos 1970. Ela expressa a vontade de autonomia das mulheres, de ter desejos e exercê-los sem o controle dos homens de sua família, do Estado ou das instituições religiosas. Ela recobre o questionamento à imposição de padrões de beleza, de normas na sexualidade e na reprodução. Aparentemente a mudança de costumes, a maior presença das mulheres na vida pública e avanços tecnológicos como a pílula anti-concepcional teriam feito desta bandeira uma realidade. Mas, para quantas? E, por quanto tempo? Qual a atualidade do debate em relação ao direito das mulheres de decidirem sobre seu corpo? O que temos visto nos últimos anos é que as pressões dos homens, das instituições religiosas e do Estado se somam às ofertas e exigências do mercado.
O mercado se apropria de elementos tradicionais da construção do gênero feminino como sua identidade relacionada ao outro num movimento permanente de tentar agradá-lo, a maternidade e a prostituição.