segunda-feira, janeiro 28, 2008
Ministro da Saúde critica postura da Igreja em relação à pílula do dia seguinte
quarta-feira, janeiro 16, 2008
Maioria acha que mulheres podem melhorar a política
Maior aceitação da presença feminina deve-se à gestão Lula e a figuras de destaque internacional, diz analista |
Carlos Marchi
Existe um amplo espaço na política para ser ocupado pelas mulheres: 67% dos brasileiros acham que uma presença mais forte do público feminino melhoraria o nível da política no País, segundo pesquisa Estado/Ipsos. Num cenário de decepção com os rumos políticos, 58% dos eleitores brasileiros acham que a participação da mulher na política é “menor do que deveria ser”. Em universo similar, 57% dizem que já votaram em alguma candidata. “Nas eleições municipais de 2008 as mulheres terão uma chance especial”, afirma a analista de pesquisas Fátima Pacheco Jordão.
Há um processo de maturação em curso, constata ela, apontando para a gradual aceitação das mulheres no topo do poder. Esse fenômeno, segundo Fátima, é resultado de duas influências. Uma, a atribuição de muitos cargos de poder às mulheres pelo governo Lula; outra, o destaque de mulheres que disputam e, em alguns casos, ganham o poder em seus países, como as presidentes Michelle Bachelet, no Chile, Cristina Kirchner, na Argentina, e a primeira-ministra Angela Merkel, na Alemanha. Mas a influência maior vem da candidata Hillary Clinton, nos Estados Unidos.
A lenta redução do velho preconceito tem, também, uma importante razão, destaca Fátima: o desencanto com as representações políticas dominadas pelos homens nos três Poderes . A pesquisa revelou, no entanto, pontos que mostram aspectos preservados do preconceito. Se 68% dos brasileiros rechaçam o velho chavão de que “política é coisa pra homem”, 31% dos eleitores do País, quase um terço do eleitorado, ainda endossam o velho ditado e formam o epicentro do grupo de rejeição às mulheres na política.
O VOTO NELAS
Votar ou não numa mulher, para o eleitor brasileiro, depende do nível do cargo: 80% votariam numa mulher para vereadora, mas o porcentual se reduz para cargos mais importantes: 78% votariam numa mulher para prefeita; 76%, para deputada estadual; 75%, para deputada federal; 73%, para senadora; 72%, para governadora de Estado; e, finalmente, 69%, para presidente da República. Ao revés, 19% ainda negam o voto a uma mulher candidata a vereadora e 30% dizem que não votariam numa mulher para presidente.
O cenário coletado pela pesquisa mostra um espaço potencialmente vazio entre os 57% que disseram já ter votado numa mulher e os 69% que admitem votar numa candidata a qualquer cargo, de vereadora a presidente. “Há uma faixa de tolerância que é maior do que a prática eleitoral já provada. Há eleitores que nunca votaram numa mulher, mas que se dispõem a fazê-lo”, constata Fátima.
Para ela, a pesquisa demonstra que o País não está inteiramente maduro para aceitar a plena participação da mulher na política, mas há elementos que apontam para uma progressiva superação do preconceito. “Muitas barreiras foram vencidas”, diz Fátima, “mas ainda existem eleitores que não votam numa candidata simplesmente porque ela é mulher.”
MAIS HONESTA
Acima de todos os preconceitos, os eleitores brasileiros - homens e mulheres - acham que na política a mulher é mais honesta que o homem: enquanto 43% não distinguem gêneros e acham que o grau de honestidade é igual entre políticos homens e mulheres, 48% entendem que a mulher é mais honesta que o homem e só 6% pensam que o homem é mais honesto. Importante: 44% dos homens acham que a mulher é mais honesta. “Se pedirmos ao eleitor para citar dez personalidades envolvidas com corrupção na política, dificilmente aparecerá um nome de mulher nessa lista”, explica Fátima.
Talvez porque mulheres ainda não ocupem espaços expressivos no comando do poder, ressalva ela. Mas a percepção do eleitor também premia a competência da mulher: 49% acham que o nível de competência é o mesmo entre homens e mulheres, mas 35% afirmam que a mulher é mais competente e apenas 14% premiam os homens no quesito. Como tradicionalmente a mulher ocupa poucos espaços de poder, essa concepção só pode vir de uma projeção do estereótipo de gênero - a mulher como gestora da prole e da casa - sobre o estereótipo do poder, diz Fátima.
A especialista diz que a pesquisa mostra um cenário que favorece as mulheres nas eleições municipais de 2008, até porque estarão em disputa os cargos de menor importância na hierarquia do Estado brasileiro - prefeitos e vereadores - e que, por isso, se situam num arco maior de tolerância à participação da mulher.
A pesquisa ouviu 1.000 eleitores numa amostra representativa do eleitorado, entre 11 e 17 de dezembro, com margem de erro de 3 pontos porcentuais.
MMM na 3 Feira Binacional de Economia Popular Solidária
segunda-feira, janeiro 07, 2008
Aborto: debate é essencial
O Uruguai acaba de se tornar o primeiro país da América Latina a permitir união de casais gays. Há pouco mais de um mês, seu Senado aprovou a despenalização do aborto. Tabaré Vázquez, presidente da República, anunciou que usará seu poder de veto se o projeto de legalização do aborto passar também pela Câmara dos Deputados.
A polêmica é considerada a mais acirrada desde a discussão sobre derrogação da lei de anistia que favoreceu militares após a ditadura no país. O debate público sobre aborto não é novidade no Uruguai, assim como no Brasil.
A legislação brasileira é uma das mais restritivas do mundo - só permite a interrupção da gravidez em caso de estupro ou risco de morte, o que resulta em abortos clandestinos e um problema de saúde pública generalizado. O debate no Congresso é hoje quase impossível, dado o profundo grau de conservadorismo das bancadas parlamentares. Há apenas três matérias tramitando no Senado e 19 na Câmara, sendo que sete tipificam o aborto como crime hediondo ou pedem revogação de direitos já garantidos e somente uma propõe a descriminalização total do aborto: o projeto de lei 1.135/91, congelado desde 1992.
O aborto é legalizado ou descriminalizado em 78% das nações desenvolvidas do mundo e somente em 19% das em desenvolvimento. Na América Latina, apenas três países permitem a prática por motivos sociais e econômicos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, dos 46 milhões de abortos cometidos por ano no mundo, 4,2 milhões são realizados na América Latina e no Caribe. Seis mil resultam em morte da gestante em decorrência de complicações.
O debate sobre o aborto precisa seguir em frente. As objeções à legalização, geralmente de fundo religioso, devem ser respeitadas enquanto escolha ou livre opção, mas precisam ser situadas fora do debate político. Sendo laico, o Estado brasileiro deve discutir o tema como problema de saúde pública, não como questão moral. Respeitando a decisão da mulher sobre seu próprio corpo, estaremos no caminho de uma sociedade mais evoluída e igualitária. O Uruguai, correndo risco de ter a escolha de seu Senado vetada por um presidente que se diz progressista, deu um passo nessa direção. Para o Brasil, falta um pouco mais. Como dizia Albert Einstein, é mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo. Só resta esperar que esse não seja tão difícil de se quebrar.
PATRÍCIA RANGEL é pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA), do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro.