Malu hoje
Durante alguns meses - mais precisamente entre maio de 1979 e dezembro de 1980, período em que o seriado Malu Mulher foi exibido pela Rede Globo - sempre que me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, a resposta era rápida e ridiculamente convicta para uma menina de 13 anos: socióloga. Não, eu não era uma adolescente prodígio preocupada em estudar os grandes problemas do Brasil. Longe disso. Na verdade, se insistissem, nem saberia explicar o que, exatamente, fazia uma socióloga. O que eu sabia é que essa era a profissão superbacana de Malu (Regina Duarte), protagonista do seriado e uma espécie de Mulher Maravilha da vida cotidiana para as garotas daquela época: inteligente, independente, esclarecida - pero sin perder la ternura. Para as meninas que cresceram nos anos 70, filhas, em sua maioria, de donas de casa que não chegaram a tempo de embarcar na revolução de comportamento que colocou as mulheres no mercado de trabalho - o que, em muitos casos, as obrigava a manter longos, e nem sempre felizes, casamentos -, Malu era o futuro próximo mandando um recado em pleno horário nobre da Globo: preparem-se, gurias, histórias de amor nem sempre duram a vida inteira, o príncipe encantado não existe mais (se é que um dia existiu) e quem não quiser perder o bonde da história vai ter que se virar, descobrir a sua onda, construir a sua história e, com sorte, fazer alguma diferença no mundo - com ou sem um cavalheiro ao lado para dividir as despesas. Foi, portanto, com certa ansiedade histórica que esta semana eu me acomodei no sofá para rever os episódios de Malu Mulher recém-lançados em DVD. É sempre uma experiência perigosa essa de revisitar com olhos de adulto algo que marcou nossa infância ou adolescência. Será que o seriado era tão bom assim quanto eu lembrava? Será que os chamados "temas polêmicos", pelos quais o programa ficou conhecido, ainda eram polêmicos ou sequer relevantes? Posso adiantar que a resposta é boa e ruim ao mesmo tempo. Sim, o seriado sobreviveu bem ao tempo e merece continuar sendo citado entre os melhores programas já produzidos pela televisão brasileira - e num país de produção cinematográfica tão errática quanto o nosso, são preciosos esses documentos visuais de uma época, para lembrarmos como o Brasil falava, e se vestia, e enfeitava a casa com samambaias há pouco menos de 30 anos. Não tão bom é perceber que, 27 anos depois, alguns dos problemas abordados em Malu Mulher permanecem tristemente a-tuais - mulheres pobres morrendo em clínicas clandestinas de aborto, violência doméstica, desemprego. Ao som de Começar de Novo, parece que algumas coisas, infelizmente, nunca ficam prontas.
claudia.laitano@zerohora.com.br
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