quarta-feira, outubro 25, 2006

Mais Eduardo Galeano

As mulheres dos deuses

Ruth Landes, antropóloga norte-americana, vem ao Brasil em 1939. Ela quer conhecer a vida dos negros num país sem racismo. No RIo de Janeiro, é recebida pelo ministro Osvaldo Aranha. O ministro explica a ela que o governo se propõe a limpar a raça brasileira, suja de sangue negro, porque o sangue negro tem culpa do atraso nacional. Do Rio, Ruth viaja a Bahia. os negros são a ampla maioria da cidade, onde outrora tiveram seu trono os vice-reis opulentos de açúcar e de escravos, e negro é tudo o que aqui vale a pena, da religião até a comida, passando pela música. E mesmo assim, na Bahia todo mundo acha, e os negros também, que a pele clara é prova de boa qualidade. Todo mundo, não : Ruth descobre o orgulho da negritude nas mulheres dos templos africanos. Nesses templos são quase sempre mulheres, sacerdotisas negras, que recebem em seus corpos os Deuses vindos da Africa. Resplandecentes e redondas como balas de canhão, oferecem aos Deuses seus corpos amplos, que parecem casas onde dá prazer chegar e ficar. Nelas entram os Deuses, nelas dançam. Das mãos das sacerdotisas possuídas o povo recebe ânimo e consolo; e de suas bocas escuta as vozes do destino.

2 comentários:

Lucio disse...

Ai hein....
mais mudanças no blog....
ta massa...
bye

Secretaria Regional do Costa e Silva disse...

Falta a última parte do texto...

As sacerdotisas negras da Bahia aceitam amantes, não maridos. O casamento dá prestígio, mas tira a liberdade e a alegria. Nenhuma se interessa em formalizar o casamento frente ao padre ou ao juiz: nenhuma quer ser esposada esposa, senhora fulano. Cabeça erguida, lânguido balançar: as sacerdotisas se movem como rainhas da Criação. Elas condenam seus homens ao incomparável tormento de sentir ciúmes dos deuses.